Qual a definição de ‘Natural’ e como a ciência define esse conceito na alimentação?

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O que o termo “natural” realmente significa? Será que ele é usado de forma adequada?

É comum encontrarmos diversos produtos denominados como “naturais” nas prateleiras de supermercados e em diversas lojas por aí. Mas o que sabemos, de fato, sobre esse tema? Até que ponto o termo “natural” é usado de forma correta para descrever determinado alimento?

“Natural” VS “Químico”

Na definição técnica de “produtos naturais” consta que estes são formados por substâncias extraídas de seres vivos, sejam eles vegetais ou animais, sem a adição de componentes artificiais ou sintéticos [1]. Nos deparamos, porém, com uma grande variedade de vertentes desses produtos, contemplando desde artigos de beleza até alimentos descritos como 100% naturais. Bom, a definição “leiga” desse termo, a estabelecida por nós mesmos, é a de que natural é “tudo que não é tem adição de produto químico”.

O termo “natural” vem do latim e pode ser definido de maneiras distintas, dependendo de como é usado. Uma dessas definições, segundo os principais dicionários, estabelece que a palavra se refere àquilo que vem ou é relativo à natureza. E, como mencionado anteriormente, um erro bastante comum é contrapor essa palavra com o termo “químico”, quando o conceito que se opõe diretamente ao termo “natural” é, na verdade, a palavra “artificial”. Logo, “artificial” pode ser estabelecido como aquilo produzido pelo homem [2].

“Tudo se transforma”

É importante entender que, “natural” e “químico” não se anulam. O que é químico não é, necessariamente, produzido em laboratórios, mas quase tudo ao nosso redor é, sim, químico. Existem diversas substâncias químicas fabricadas pela natureza, por exemplo. Mas não se assuste, um dos exemplos mais evidentes de substâncias orgânicas são aquelas produzidas constantemente em nós mesmos, para que o funcionamento do nosso organismo siga de forma saudável.

Sendo assim, tudo o que é produzido pelo homem é apenas uma transformação do que já foi instituído pela natureza, e que, depois, voltará a ser natural através de nossas excreções e da decomposição dos corpos. Por fim, o que é “natural” se transforma em “artificial”, que voltará a ser “natural” após certo tempo. Como já dizia Lavoisier: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” [3].

E como tudo isso está relacionado com a nossa saúde?

É aqui que o conceito se torna mais complexo, quando ligamos o termo “químico” à saúde. Como tudo na nutrição, é preciso que haja um equilíbrio, o que significa que quantidade e qualidade são, igualmente importantes para uma alimentação equilibrada. O ideal é consumir alimentos variados, respeitando as porções indicadas para cada grupo alimentar [4]. Um exemplo da importância disso é a cafeína [5], se consumida com parcimônia, ela traz diversos benefícios, porém se fizermos o uso excessivo dela, podem surgir uma série de efeitos colaterais, como a irritabilidade e batimentos cardíacos irregulares.

Isso quer dizer que, não precisamos banir todo e qualquer componente químico da nossa alimentação, ainda mais porque não é possível, mas sim regular a quantidade dessas substâncias. O essencial é procurar se informar em relação aos malefícios e benefícios, do que está sendo consumido, além das porções recomendadas de cada um, mas sem deixar o medo irracional instaurado pela pseudociência tomar conta.

Muitas vezes, associamos imediatamente produtos naturais à benefícios nutricionais que terão um impacto positivo na saúde. Porém, isso nem sempre é verdade [1], alimentos naturais podem conter, por exemplo, grandes quantidades de açúcar ou outras substâncias que, em doses exageradas, são prejudiciais. Nos Estados Unidos, algumas cortes federais já se manifestaram sobre o assunto, pedindo para que a agência de alimentação FDA (U.S Food and Drug Administration) definisse melhor o conceito, de modo a explicitar esse contraste entre saudável e natural, e o órgão determinou que não considera o termo natural como sinônimo de algo que traga automaticamente benefícios à saúde.

Por mais que exista um receio em relação às substâncias industrialmente adicionadas aos alimentos, o impacto delas em nossa saúde é sempre o mesmo. Isso significa que, se adicionarmos água à determinado produto, essa água terá a mesma influência que teria se já estivesse no alimento. Além disso, o que é produzido em laboratório pode até ser melhor do que o “natural” que é classificado muitas vezes sem nenhum parâmetro científico. Um bom exemplo disso é a água destilada que, muitas vezes é mais limpa e recomendada do que a presente nos rios, já que essa pode conter moléculas nocivas à saúde.

Concluindo, fica evidente que o medo do que é denominado “artificial” não, é algo sustentável pelos argumentos racionais e científicos apresentados por pesquisadores e químicos, já que se trata de um termo não atribuído à saúde [1]. É sempre muito importante pensar em qual significado atribuímos ao termo “natural” antes de usá-lo, e verificarmos se opomos o termo ao que é químico ou artificial. Procure se informar sobre todos os componentes dos alimentos, não apenas ao que te assusta, e não deixe de consumir algo apenas pelo medo sem fundamentos.